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    #labRes2015

    Texto do Júri seleção

    “Eu não sei de onde sou,
    minha casa está na fronteira,
    E as fronteiras se movem,
    como bandeiras.”
    Jorge Drexler, Fronteira, 1999.

     

    Considerando as definições do que se pode compreender como território, paisagem, região, e as tensões discursivas existentes entre as noções de cidade e ruralidade (somadas a mais uma camada, a omnipresença da noção global definida pelas redes virtuais digitais), a zona definida pelo cruzamento dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, localizada a meio caminho, nas extremidades das duas metrópoles – São Paulo e Rio de Janeiro, apresenta-se como um lugar especialmente interessante a ser trabalhado.

    Nestas fronteiras, contextualmente tanto geográfica como conceitualmente, a particularidade da localização da Fazenda Santa Teresa atua naturalmente como um abarcador para o projeto rural.scapes, agente articulador de encontros e diálogos artísticos e trans-culturais que promove a vinculação e mediação de projetos capazes de estimular possibilidades de inter-relacionamento entre o ambiente rural, urbano e local.

    rural.scapes, como interface, relaciona, articula e reorganiza de maneira dinâmica em ambiente rural novas práticas culturais desde a complexidade de uma leitura realizada a partir de múltiplas camadas, ou ainda, simplesmente desde uma operação relacional direta.

    Nestas operações diretas, saberes, tecidos narrativos, memórias, lembranças, reconstruções históricas, poéticas e tecnológicas funcionam como disparadores de possibilidades de aproximação, aprendizado e transversalidades que abrem perguntas sobre questões cotidianas tomadas, muitas vezes, como certezas.

    Esta ‘porosidade de fronteira’, encarada a partir de uma abordagem transversal honesta e afetiva, nos estimula a rever-nos, repensar-nos e reconstruir-nos.

    Nesta segunda edição de rural.scapes labRes2015, partindo da experiência do projeto realizado em 2014, a convocatória foi orientada para propostas inovadoras em diferentes suportes tecnológicos, que constituem obras e ações realizadas a partir da relação entre a técnica, a arte e o ofício artesanal com a tecnologia, considerado aqui com um conjunto de conhecimentos técnico-científico em ambiente rural.

    Sobre o conceito aberto de interMedios Rurais, foram selecionadas propostas que visam o desenvolvimento de projetos relacionados com a investigação, criação de obras e intervenções no local, definidas pelo uso do conhecimento das tecnologias pré-existentes na roça. Esta cultura rural, tradicionalmente baseada na construção de ferramentas e tecnologias, e que busca garantir a sobrevivência de forma auto-sustentável, agora pode ser reconhecida ou confundir-se com o trending da cultura DIY (Do It Yourself). À diferença do DIY, a transmissão e intercâmbio destes conhecimentos representam um valor negociável, que condiciona e desenha as dinâmicas sócio-ambientais locais.

    Nesta edição, rural.scapes promove, portanto, propostas que transitem através da idéia da transformação do uso de ferramentas [eletromecânicas], matérias e/ou infra-estruturas locais [circuitos integrados], que criem relações entre os contextos local e global [em rede, on e offline], levando em consideração o território especifico da residência, base para o desenvolvimento das obras e oficinas.

    Tendo em conta as limitações e as possibilidades logísticas do projeto, o júri procurou agrupar as propostas de modo que seja possível promover diálogos e interações entre os projetos durante os dois períodos da residência.

    JURI DE SELEÇÃO

    Brian Mackern. MVD, UY.
    Bruno Vianna. RJ, BR.
    Rachel Rosalen. SP, BR.
    Rafael Marchetti. BsAs, AR.
    Tania Aedo. DF, MX.

    PROPOSTAS SELECIONADAS

    Período 1 ~ 20 de maio a 4 de junho de 2015

    E.A.E.#01 da Série D.K.A. + Céu Aberto
    Denise Alves Rodrigues de Oliveira
    São Paulo, Brasil

    A partir da re-conexão entre a percepção do céu noturno e dispositivos tecnológicos artesanais, este projeto promove a interação comunitária a partir da construção de interfaces sonoras para criação de partituras para as constelações selecionadas pelos participantes.

    Especies-sonoras (Espécies Sonoras)
    Colectivo Arte a 360 Grados:
    José Luis Romero Chino e Aldo Huerta López
    Tlaxcala, Mexico

    Tendo em conta a vasta experiência desenvolvida pelo coletivo em comunidades no Estado de Tlaxcala, no México, este projeto aposta no intercâmbio cultural entre a comunidade local e meio-ambiente rural, através da conexão e re-interpretação – tecnológica – da flora local, para desenvolver uma instalação criativa baseada em instrumentos sonoro-bio-tecnológicos.

    Micromacro
    Hamilton Mestizo
    Bogotá, Colombia

    A partir do estudo e cultivo de microorganismos e suas relações com o entorno local próximo, MicroMacro desenvolve um kit autônomo para investigação biológica, promovendo a ativação comunitária através do compartilhamento de informações e da produção do que poderia ser nomeado como uma ciência-cidadã.

    Rádioplanta
    Paloma Oliveira e Mateus Knelsen
    Rio de Janeiro, Brasil

    A partir do desenvolvimento de projetos com base em eletrônica de baixo custo e botânica, Rádioplanta promove a criação de redes rádio(plantas)-difusoras, compartilhadas pela comunidade local.

    Torre lente de água: Prototipo DIY de gerador de energia solar e projetor
    Ricardo Garlet
    Chapecó, Brasil

    Proposta de intervenção na paisagem rural que incorpora investigação tecnológica auto-sustentável aplicada. A partir da construção de um dispositivo óptico baseado na qualidades da água e sua interface com eletrônica básica, Torre de Água aposta na abertura das tecnologias fechadas produzidas pela indústria e no rompimento com a obsolescência programada inserida propositalmente dentro das caixas pretas, nos produtos encontrados no mercado.

    Período 2 – 10 a 25 de junho de 2015

    Básica Transmutación (Básica Transmutação)
    Aniara Rodado
    Bogotá, Colombia

    Por meio de estudos realizados em laboratório caseiro desenvolvido pela artista, Básica Transmutação promove a pesquisa das propriedades curativas e cosméticas da botânica tradicional, a partir do diálogo com a comunidade local e seus saberes.

    DDP – diferença de potencial
    DUO b (Marcelo Bressanin e Pedro Ricco)
    São Paulo, Brasil

    Mapeamento sonoro de circuitos e fluidos hídricos, tanto como sistemas naturais como de sistemas construídos pelo homem e contidos em diferentes escalas – desde pequenos riachos até complexos de abastecimentos urbano. DDP resulta em uma instalação sonora, através da leitura de dados, e em um processo de cooperação entre os artistas e a engenharia ambiental.

    m.e.n.a.
    (música electrónica no amplificada / música eletrônica não amplificada)
    Jorge Crowe
    Buenos Aires, Argentina

    A proposta de Crowe está baseada na geração musical sem uso de sistemas de amplificação sonora. A pesquisa funciona como um caminho de exploração comunitária sobre o potencial de criações rítmicas a partir do entorno natural.

    Machinima
    Isabelle Arvers
    Marseille, França

    Oficina que foca a pesquisa audiovisual e narrativa do video-game como matéria fílmica, promovendo integração social e potencializando uma visão crítica da cultura do entretenimento.

    Esculpir Los Sonidos (Esculpir os Sons)
    Cristian Espinoza
    Santiago do Chile, Chile

    Intervenção na paisagem através da realocação sonora através de radio-transmissões, em tempo real, de pontos sensíveis que definem os trajetos do trecho do ribeirão Santana que corta a Fazenda Santa Teresa.

    Waiting for the Elephant to Alight in a Tree
    (Esperando o elefante pousar em uma árvore)
    Mohamed Rabiei
    Baghdad, Iraque

    Mohamed parte de aproximações crítico-conceituais ao contexto pós-colonial, que mantém resquícios de hábitos herdados do período colonial que todavia funcionam como atuadores sociais e estéticos, sem reflexão. As conseqüências destas práticas, muitas vezes, geram situações de conflito e de preconceito em vários níveis. Propondo diálogo através da interação com a paisagem local, Waiting for the Elephant to Alight in a Tree, dinamiza as relações sociais e as micro-políticas do entorno.