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  • Yessica Díaz

    Mapa de costumbres. Desenhos das adequação do costumes e usos alimentar, Yessica Lizbeth Díaz (México),  pensa nas sociedades como vida, completa de funcionalidades com alguns equilíbrios que ativam o planeta em constante movimento. Busca deslocamentos, adaptações, pensa os costumes dos  alimentos, como metodologia, faz uso de desenhos, mapas feitos a mão, mas também intercâmbios com as pessoas do lugar. A relação com crianças e adolescentes da região, o uso do desenho como ferramenta cartográfica acessível a todxs, a reflexão sobre alimentação e trocas geracionais fazem com que o projeto seja uma ferramenta para visualizar e interagir com a sociedade local.

    Texto Júri #labRes2016_1

    Es Maestra en Artes por la Universidad Autónoma del Estado de Morelos, México.
    Ha participado en diversas exposiciones internacionales en ciudades como Madrid, Medellín, Nueva York, Massachussets, y en México, en ciudades como: Tijuana, Guanajuato, Hidalgo, Mexicali, Tapachula, Mérida, Aguascalient.

     

    Comentários de Juliana Gontijo crítica seleccionada #labRes2016_1.

    A cartografia alimentar de Yessica Díaz indaga sobre a influência do lugar em que vivemos no estabelecimento de hábitos alimentares que por si incidem sobre a constituição e imaginário de cada corpo. Como uma confissão desenhada, sobre espantalhos de tecido armados com fios de arame brotam alfaces no estômago, refrigerantes na cabeça, sorvetes no coração: comidas do dia-a-dia de um grupo de crianças da localidade de São José do Barreiro (SP) que se aproximavam curiosas das mesas instaladas na praça central da cidade e contavam seus casos alimentares, enquanto desenhavam com aquarela sobre sua própria silhueta em tecido. Ante a resistência e as limitações dos gostos alimentares das crianças, a artista começou a estabelecer novas categorias e associá-las com partes do corpo: a área preferida receberia as comidas consideradas mais gostosas; e assim inversamente.

    As obsessões com a imagem do corpo foram vistas diretamente refletidas nas obsessões alimentares; se contemplam, portanto, nas silhuetas de tecido de seus corpos, sorrisos carregados de guloseimas e cabelos de alface. Ademais, o ato do comer, em sua efemeridade cotidiana, é justaposto à permanência do desenho, realçando a dimensão simbólica e metafórica do primeiro. A estética da arte, além de sua capacidade de representação, surge, então, como um meio de comunicação manual que socializa a experiência da comida e diretamente plasma um imaginário que torna comum os desejos individuais. Se repetem, assim, os desenhos de pedaços de pizza, sorvetes, bolos, peixes e galinhas criadas no quintal.

    A comida é, logo, uma forma recorrente de intercâmbio, uma experiência socializadora; um elemento transindividual que media e conecta indivíduos entre si, explicita desejos e evidencia as relações socioeconômicas com um determinado território. Diaz utiliza essa mediação de forma a tensionar poética e politicamente as relações sociais e suas dinâmicas de produção e consumo, friccionando, igualmente, o real e sua representação nos atos cotidianos básicos. Ao instalar as silhuetas de alimentos formando um pequeno percurso pela Fazenda Santa Teresa1, ela reconecta, simbolicamente, formas alimentares com a terra de onde originam esses alimentos, mostrando denominadores comuns que nos unem como indivíduos ao local que ocupamos, mas, ambiguamente, deixa entrever discrepâncias entre gostos estabelecidos,recursos nutricionais e, principalmente, entre a autonomia da terra e o consumo automático do produto industrial. Somos levados a indagar se a quase ausência de produtos naturais que se observa nos corpos em silhueta não seria uma evidência da problemática agrária que acumula latifúndios e limita significantemente o acesso à terra em nosso país. Que nova cartografia alimentar apareceria se todos tivéssemos oportunidade de cultivar nossos próprios alimentos?

    1 Nome da sede do projeto rural.scapes, localizada em São José do Barreiro, município do Estado de São Paulo.