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  • Ananda Carvalho

    #Cartografias do transplantar
    Sobre rural.scapes laboratório em residência 2015


    Estar em residência consiste na imersão em um movimento randômico do processo de criação e suas possíveis interações. A vivência ocorre num atualizar constante entre o experimentar e o que já estava lá (na pesquisa de cada artista e também no local de residência). A situação de site specific é algo mais que evidente: os fluxos do cotidiano são desviados por meio das configurações próprias do estar em outro lugar. A seleção do júri para o rural.scapes 2015 evidenciou perspectivas que ativavam processos entrópicos através de vivências com os “entremeios da roça”. Para os organizadores do projeto – os artistas Rachel Rosalen e Rafael Marchetti –, o laboratório em residência tratava de um sistema operativo em constante atualizações de ideias num ambiente rural. Nesse, atualizar contínuo, era recorrente a pergunta: como REapresentar em um texto breve os acontecimentos visíveis (e os invisíveis) de 30 dias? Ou, como traçar leituras críticas dos rastros dos processos de criação dos artistas participantes do laboratório em residência rural.scapes 2015?

    Este texto emerge como uma cartografia subjetiva de ações de transplantar –verbo utilizado com o intuito de fugir das leituras tendenciosas da ideia de representação já tão conhecida na história da arte. Para mim, como crítica em residência (participando pela segunda vez no projeto), a presença da palavra transplantar dá a ver algo de “movência”, na qual aparece as hibridizações entre as experiências anteriores e as ocorridas em rural.scapes. Transplantar também é uma possibilidade de reorganizar leituras do mundo, desencadeando a criação de cartografias por meio de imagens, sons, cheiros e outras fantasmagorias da percepção (p.s.: as ideias de cartografia e fantasmagorias emprestei do Cristian Espinoza). Transplantar também surgiu do acaso das trocas em uma conversa com Aniara Rodado. A artista me apresentou um texto do crítico alemão Jens Hauser, de quem emprestei o conceito.

    Cartografias do Transplantar divide-se em 2 atos na medida em que a residência era organizada em 2 períodos com grupos de artistas distintos. O Ato I: Circuitos Abertos na Iminência da Interação observa os processos de criação de Denise Alves Rodrigues (Brasil), Hamilton Mestizo (Colômbia); Mateus Knelsen e Paloma Oliveira (Brasil); Ricardo Garlet (Brasil); e Colectivo Arte a 360 Grados: José Luis Romero Chino e Aldo Huerta López (México). O Ato II: Breves Traduções de Verbos Conjugados no Gerúndio comenta os processos de criação de Aniara Rodado (Colômbia); Cristian Espinoza (Chile); Isabelle Arvers (França); Jorge Crowe (Argentina); Mohamed Rabiei (Iraque); e DUO b: Marcelo Bressanin e Pedro Ricco (Brasil).

    Ato I: Circuitos Abertos na Iminência da Interação

    Ricardo Garlet desenvolveu novos pincéis para acessar imagens. Construiu uma torre-projetor com lente de água e armação de bambu para exibir uma imagem única – de uma pintura que ele havia produzido anteriormente a partir de projeção. Entretanto, Torre Lente de Água: Protótipo DIY de projetor e gerador de energia solar não tratava da imagem a ser projetada. Inicialmente, sua estrutura pretendia ser um farol, mas depois evidenciou a demanda de uma aproximação do observador, o circular ao redor. Instalado no terreiro na frente da casa sede de rural.scapes, o projetor sofreu as intempéries do tempo – do clima e do passar dos dias. A imagem fixa ganhou outro tipo de movimento ao incorporar uma resposta orgânica que fugia da programabilidade do artista. O que era nítido foi perdendo o foco, a lente foi aumentando, o tecido ficou manchado, a estrutura serviu de abrigo para a apresentação do artista Jorge Crowe (que participou do segundo grupo da edição de 2015), e a imagem, aquela tal imagem, tornou-se um borrão repleto de granulados. Sob essa perspectiva, era cada vez mais recorrente que o trabalho de Ricardo não se restringia à apenas uma imagem. Consistia em uma somatória, ou melhor, uma multiplicação que registrava o processo de criação do artista em conjunto com o entorno. Os seus componentes, os elementos pictóricos, aos poucos, deixaram de ser figurativos, passando a representar que não representam. Foi aí que surgiu outro trabalho, quando Ricardo percebeu que poderia fazer uma projetor que não usaria uma imagem pronta. Em Protótipo de projetor DIY suspenso com lente de água – Red/Green Leds, o artista finalizou a residência com a composição de uma projeção só de luz.

    Denise Alves-Rodrigues procurava aproximar-se da cosmovisão caipira ao criar mapas de uma astronomia rural. A partir de seu interesse por teorias duvidosas e ciências impuras, trabalhou na construção dos aparelhos de observação e registro Especulações Áudio Estelares da série Desenhador Kósmiko Artesanal que, assim como o projetor do Ricardo, provocavam desvios nas representações da tecnologia tradicional do olhar. O processo de criação de Denise questionava o comunicar, o traduzir, o catalogar (assim mesmo com os verbos no infinitivo esperando por conjugar outras conjecturas e ressaltar distintas possibilidades de ver). A artista compartilhou seus estudos dos atravessamentos entre arte, história, astronomia e eletrônica por meio de diferentes perspectivas em oficinas Céu Aberto na cidade de São José do Barreiro e também nos eventos de Fazenda Aberta (momentos em que a comunidade da região visitava a residência). A partir dos dispositivos astronômicos que construiu (que também eram materializados em discursos verbais nas oficinas), buscou uma reorganização subjetiva do cintilar das estrelas por meio do seu olhar. Suas captações gráficas, ou os desenhos desse cintilar, tornaram-se, então, documentações áudio-estelares materializadas num teclado de estrelas. Ao mesmo tempo, que esse objeto/instrumento registrava uma cartografia do céu, propiciava a improvisação livre de uma música que buscava pelo som das estrelas. Por fim (mas, ainda no meio), as especulações de Denise, davam a ver as “sucessividades” de criações que permeavam o laboratório em residência.

    Mateus Knelsen e Paloma Oliveira repensaram a comunicação – através de um pequeno sistema de recepção e transmissão de rádio – como um gesto bioartístico. Seu projeto Radioplanta consistia na construção de biobaterias e 3 circuitos – oscilador, amplificador e transmissor de áudios – para conjugar um diálogo através da leitura da atividade elétrica das plantas. Nesses dispositivos de tradução das interações com o meio rural, os aparatos comunicacionais eram caracterizados por uma potencialidade latente, ou seja, poderiam funcionar ou não. Sob essa perspectiva, o trabalho de Mateus e Paloma não pode ser observado apenas com o objetivo de construção de um aparelho. A dupla de artistas tratava da ativação de atos comunicativos. Propuseram-se a um aprendizado laboratorial, lidando com o ruído e o acaso. Ao longo de toda a residência, formas de comunicar emergiram nas oficinas com crianças e idosos da região, além das trocas com os outros artistas. Se as plantas constituíam o objeto de estudo, elas também eram disparadores de possíveis interações, ou ainda, a forma de integrar outros organismos (pessoas) no trabalho. Por fim (e também, ainda no meio, como pode ser observado no desenrolar deste texto), a última experiência concentrou-se em circuitos ao redor da amoreira. E, ali, circuitos eletrônicos, biológicos e de conexão de pessoas foram permeados por traduções de conversas, alimentadas pelas biobaterias de limões.

    Aldo Huerta López e José Luis Romero Chino, integrantes do Colectivo Arte a 360 Grados, desenvolveram o projeto Especies-Sonoras, um instrumento sonoro biotecnológico. Ao percorrer o entorno da Fazenda Santa Teresa com Hamilton, Aldo e José fizeram experimentações para perceber o micro mundo por meio dos sons. Suas pesquisas resultaram em 2 apresentações de composições sonoras – que incluíam os áudios gravados com Hamilton, aparatos produzidos a partir de lixo tecnológico (alto-falante, sensores, etc) e o som do movimento das plantas captado ao vivo por microfones de contato. A paisagem da peça sonora tinha tons de suspenso com timbres tensos em uma catarse ritualística que ao final acalmavam-se com o borbulhar tranquilo do rio sempre em fluxo. Somava-se, ainda, uma gravação de orações e conversas humanas. Para os artistas, provenientes da região de Tlaxcala (México), havia o desejo de evidenciar uma tradução diferenciada do entorno no movimento constante do ao vivo.

    O projeto inicial de Hamilton Mestizo buscava perceber o entorno: o que está “invisível” ao redor do nosso corpo. Com seu pequeno laboratório portátil, coletou microorganismos para pensar as possíveis visualizações de forma estética e científica de um sistema Micromacro. Esses microorganismos foram cultivados e observados através de microscópios construídos pelo próprio artista a partir da inversão de lentes de câmeras webcam. Com essas ações, o artista fez um movimento circular de coletar o micro e dar a ver em macro, ressaltando nossa presença neste intervalo. Se Denise especulava os registros das estrelas, Hamilton re-apresentava o visível do universo invisível.

    O trabalho de Hamilton é uma metáfora que sintetiza a experiência do vivenciar coletivo da residência: circuitos abertos na iminência da interação. Isso pode ser afirmado na medida em que o artista compartilhou seus “experimentos científicos” interagindo com os outros residentes. Fez testes com os projetores de Patrício Dalgo (que participou da edição de 2014 de rural.scapes); exibiu imagens dos microorganismos que vivem no bambu em projetor construído por Ricardo com o próprio bambu; apresentou uma oficina em conjunto com Aldo e José; e desenvolveu uma ação/live image em conjunto com Mateus e Paloma na última edição da Fazenda Aberta. Neste evento, enquanto Mateus e Paloma exibiam a comunicação de sua Radioplanta, Hamilton fotografou imagens ampliadas das nervuras das folhas e das palmas da mão do público presente. Ao anoitecer, estas imagens tornaram-se uma performance de live image que dançavam ao ritmo dos sons da Radioplanta. As proposições de Hamilton atuaram como conectores entre o áudio e a imagem, entre os projetos artísticos e os trabalhos realizados, o entorno e o público. Em MICROmacro.scape+radioplanta, a imagem da vivência de um laboratório em residência emergia explicitamente. As especificidades iam borrando-se, cruzando os elementos e agregando outras continuidades.

    Ato II: Breves Traduções de Verbos Conjugados no Gerúndio

    Cristian Espinoza caminhava cartografando os territórios, procurando como aplicar sua metodologia de trabalho – a acupuntura dos espaços. Mapeava os pontos sensíveis dos lugares, aqueles que emanavam ação, que demarcavam possibilidades de maiores potências, que comunicavam ou ativavam tais territórios. Em rural.scapes, Cristian deteve-se sobre o rio que cruza a fazenda. Seu projeto Esculpir los sonidos pretendia transportar uma porção do rio sonoramente para outro local. No rio, a leitura do artista encontrou pontos significantes, os quais chamou de costuras. E, nelas instalou duas “agulhas de acupuntura” – esculturas-antenas que transmitem a sensibilidade daqueles locais. Mas, se não tratava apenas de um transplantar estético. A sobreposição dessas próteses captavam a fantasmagoria do rio, a virtualidade das interferências no território, ou ainda, os espectros micropolíticos. Na busca de interferências simbolicamente sonoras, emergia outro Ruído de Fundo. Para Cristian, as fantasmagorias iam além das interferências no rádio ou no som que vem com um erro de tradução. Seu processo de criação também fazia referência ao contexto territorial como as torres de alta tensão em Queluz, a base militar de Resende e a usina nuclear de Angra dos Reis. Ou seja, a topografia artística de Cristian reconfigurava a paisagem, transmitindo uma tradução de fluxos imateriais e de radiações de forças políticas e econômicas.

    O DUO b – Marcelo Bressanin e Pedro Ricco – trabalhou na construção da escultura sonora DDP (diferença de potencial) que transplantava o sistema hídrico da região em um micro espaço da Fazenda Santa Teresa. Canaletas de bambu funcionaram como leitos dos rios e como representação do relevo da região. Ao redor, foram instalados 10 amplificadores com diferentes sons que compunham uma paisagem sonora a partir das especificidades do local. Em um primeiro olhar, questionei por que tal trabalho não seria uma instalação na medida em que propunha uma espacialização sonora e uma vivência do público em seu interior. Mas, aos artistas interessava o ato de esculpir, no qual pontos sonoros específicos são modelados (e que podem ser percebidos pelo desenho plástico e pela mixagem do som). E, ainda, essa ação escultórica tratava da imersão dos próprios corpos dos artistas, que saíram do estúdio e do computador. Antes das captações e mixagens, foi necessário a experiência física de descoberta e ativação de materiais e ferramentas para a construção da estrutura de bambu. Ou seja, o ato de esculpir, no sentido literal, estava ali nas experiências de Marcelo e Pedro com o entorno rural. Por outro lado, durante a vivência na residência, também emergiu que rural.scapes não estava tão isolado da situação urbana. As contaminações entre São José do Barreiro e Areias (cidades entre as quais a Fazenda Santa Teresa se insere) e o espaço rural estavam sempre presentes. Considerando essa perspectiva, o trabalhou demandou a criação de uma segunda presença que também modelou o relevo da escultura. A experiência em DDP (diferença de potencial) desenhava-se entre sobreposições das captações do áudio do carro passando na ponte, do cavalo trotando na rua, do sino da igreja, além dos fluxos dos rios. E, ainda, sob os sons esculpidos nessa camada simbólica, havia mais um componente para a modelagem de cada um que a vivenciava: o pequeno riacho que cortava o espaço selecionado para o trabalho, os passarinhos, as galinhas, as cabras e as vacas que rodeavam a casa.

    Aniara Rodado é coreógrafa de microperformatividades. A sua pesquisa Básica Transmutación mapeou diversos usos das plantas para pensar uma outra dança, botânica. Em suas alquimias, a artista buscou construir uma máquina de produzir cheiros, que conduzisse a experiência a partir dos aromas das plantas. Construiu um ateliê embaixo da mangueira com fornos para extração de óleos essenciais. Na intensidade do estar em residência, a artista vivenciou diversas reações que não esperava e trabalhou com outras materialidades que não havia pensado ou utilizado antes. Nesse processo, além da microperformatividade como método de trabalho, também emanavam as ideias de decantação (o processo químico-físico, mas também o decantar das ideias e do tempo duracional expandido) e de duelo (no qual lidava com as intempéries químicas e físicas e com o seu processo de criação artístico em movimento constante). Aniara procurava entender o que a planta poderia ensinar para ela. Por esse viés, a extração dos óleos não restringia-se a um objetivo empírico e enfocava a discussão das diversas conexões de um sistema (assim, como no trabalho do Cristian, que não considerava apenas a transmissão do som do rio). A artista buscava transplantar paisagens com todos os componentes que poderiam estar dentro e ao redor da “alma das plantas”. Ao final, o ateliê-mangueira tornou-se uma instalação rizomática, no qual as raízes e os galhos eram expandidos com arames e tubulações que conectavam-se aos recipientes de vidro e, por consequência, aos fornos. E, ali a mangueira passou a produzir aroma de eucalipto permeando a “movência” de outras danças, de outros corpos.

    Isabelle Arvers é curadora especializada nas relações entre arte e videogame. Para rural.scapes, ela propôs a realização de oficinas de Machinima (vídeos produzidos a partir de games) com crianças e adolescentes de São José do Barreiro. Em seu trabalho, emergiu a hibridização entre a cultura dos games e as leituras da vivência local produzidas pelos participantes. Os 2 vídeos desenvolvidos nas oficinas – Matadouro e Espírito – versavam sobre histórias de assombrações. Na construção desse ato de transplantar, Isabelle percorreu a cidade com as crianças captando fotos, vídeos e relatos. Esses materiais foram adicionados as criações gráficas produzidas num software de animação 3D que segue a estética de jogos de simulação. Se por um lado, foi produzido uma re-apresentação da cultura local de forma coletiva, Isabelle também deteve-se na criação de outras leituras da paisagem da Fazenda Santa Teresa por meio da produção de vídeos com o mesmo software de animação. Incorporou diferentes camadas através de colaborações sonoras dos outros artistas em residência.

    Em blu blu blu, seus recortes de montanhas azuis somavam-se às gravações do fluxo da água produzidas por DUO b.
    Já, em bluenoise multiplicava os redesenhos das montanhas com as captações do áudio da antena de internet da fazenda produzidas por Cristian Espinoza. Nesses glitches das paisagens, os erros de codificação emergíam como provocações do transplantar, no desejo de ver o que estava por trás do figurativo, na desconstrução do que já estava programado.

    …Era uma vez um artista que “(…) inconscientemente costumava se esquecer de se apresentar (…). Seus pais o chamaram de Mohamed sem pedir sua opinião, o passaporte que ele carrega declara que sua nacionalidade é iraquiana, o que pode ser verdade”. As frases em aspas são um trecho de uma performance-apresentação de portfólio de Mohamed Rabiei traduzido por mim para o português com os verbos conjugados na terceira pessoa (no original em inglês, os verbos estavam na primeira pessoa do singular). O processo de criação de Mohamed buscava deslocar-se das questões diretas como “o que?” ou “por que?”. Sua pesquisa emergia metaforicamente em histórias ou em contos que relatavam sua jornada Esperando o Elefante Pousar em uma Árvore, título do seu projeto em rural.scape. O seu trabalho não tratava de objetos, dizia respeito ao acontecimento, ao estar em deriva, ou simplesmente, “estar” em residência. Eu poderia dizer que durante a sua estadia na Fazenda Santa Teresa, Mohamed procurou mimetizar móveis encontrados promovendo cenários alternativos; que o que já estava lá foi redesenhado para integrar outras sensibilidades; que transplantou o paladar oferecendo um jantar com receitas da culinária mesopotâmia, etc. Mas, não era isso. O trabalho do artista não se restringia a essas ações passíveis de serem objetificadas. Tratava de estar em processo no qual traduções culturais mesclavam sabores sociais, políticos e econômicos. Consistia em pensar o habitar artístico nas presenças que não eram ditas, ou, no que nos foi narrado como uma fábula. Mas, talvez, tudo fosse ficção… e cada um fará a sua leitura do que poderia ser percebido, visto ou ouvido.

    Jorge Crowe apresentou-se como um “domador de elétrons” – utilizando a expressão de um amigo. O artista colocava a eletrônica em diálogo com o fazer artesanal na construção de instrumentos que reutilizavam objetos encontrados. Em oficinas com as crianças de São José do Barreiro, produziu brinquedos eletrônicos. Mas, suas composições iam muito além. Eram interfaces para gerar ritmo na alternância da multiplicação de frequências fortes e fracas. A ele interessava o presente, o ao vivo, os tempos e os espaços imprevisíveis. E, aos poucos, Jorge foi construindo a sua paleta sonora conjugando-a em acontecimentos coletivos, no qual o artista gerava um diálogo para depois tensioná-lo. Em pequenas amplificações, música eletrônica levemente amplificada, Jorge espacializou o som. Ocupou o terreiro na frente da casa usando como base a estrutura da Torre Lente de Água (desenvolvida por Ricardo Garlet no primeiro período de residências). Inicialmente, já não havia silêncio e emergia o cricrilar dos grilos. Na composição audiovisual de Jorge, os instrumentos que ele havia construído durante a residência estavam espalhados pelos quatro cantos com leds que dançavam ao ritmo da música. E, havia mais um elemento que tocava: as luzes dos quartos e das salas da frente da casa. Jorge, lembrava-nos o quanto a experiência da residência havia sido vivenciada em torno da casa. E, assim, em breves traduções de verbos conjugados no gerúndio, o artista encerrou o último dia de rural.scapes dando a ouvir (e a ver) a presença desse espaço de residir que tantas fantasmagorias havia condensado naqueles dias de junho.