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  • Martin Reiche

    Martin Reiche (Alemanha), residente em Berlin, propôs KHz, um projeto que prevê a construção de antenas que mapeiam o espectro eletromagnético cujos dados são visíveis pela internet. Começou este projeto na Estônia. Propõe seguir com o projeto em rural.scapes, construindo na propriedade outras grandes antenas de arame de cobre disfarçadas de cercas. Sua última meta é triangular as informações dessas recepções efetuadas pelas antenas situadas em três países diferentes. O júri gostou da clareza da proposta, de suas implicações táticas e políticas, da visualização do invisível e do elemento escultural.

    Texto Júri #labRes2016_1

    He is a media artist and independent researcher living and working in Berlin with interest in space, perception, digitization, digital anthropology, power relations and minimal aesthetics. He collaborate with researchers, artists and galleries worldwide.

     

    Comentários de Juliana Gontijo crítica seleccionada #labRes2016_1.

    Não há lugar desabitado; não há espaço vazio. Tampouco há silêncio. O território possui capas, nem todas visíveis, e muitas intencionalmente ocultas. Martin Reiche imerge numa busca incerta por sinais propositalmente inacessíveis na invisibilidade do espectro magnético que nos rodeia. Ao procurar captar e identificar possíveis redes de comunicação militar por meio de uma antena artesanalmente fabricada, seu projeto Kilohertz constrói uma ponte entre a visibilidade do território e o potencial abstrato da informação. Análoga às zonas militares que interditam travessias, proíbem escutas e escondem visualizações, a escultura-antena intervém na zona rural criando um “território de exceção”: um quadrado de 25 m2, cercado por arames farpados, mantém à distância os animais da fazenda que por ali circulam. Contraditoriamente, essa escultura funcional, enquanto é espacialmente agressiva e visualmente ruidosa, permanece imóvel e passiva como dispositivo silencioso de captação de sinais eletromagnéticos, camuflado em sua função, sem emitir nenhum tipo de sinal.

    Para se inserir na potência do que é invisível, a extensão da antena foi calculada com o objetivo de captar clandestinamente radio beacons, sinais emitidos para testar a propagação de ondas de rádio num espectro de frequências extremamente baixas, reservado na maioria dos países do mundo às comunicações militares devido seu amplo alcance. A recepção desses sinais evidencia um potencial de comunicação; um potencial encriptado que não figura nos mapas, nem respeita seus limites e fronteiras políticas, mas que, silenciosamente, constrói outro território de poder e uma rede paralela de informação.

    Kilohertz, estrutura de recepção de bandas eletromagnéticas disfarçada de intervenção land art, provoca, finalmente, um ruído simbólico ao armazenar e vazar dados de canais de comunicação que a privatização e militarização retirou do uso comum, transformando-os novamente em commons a nível de informação1. Canais que, fatuamente, só são invisíveis em razão da falta de acesso à tecnologia necessária para decodificá-los, e que um futuro manual DIY para construir antenas caseiras, escrito por Reiche, tratará de recolocar na dimensão factível de indivíduos comuns.

    O poder não é uma coisa, mas um potencial de ação.

    1 O projeto contempla, em sua totalidade, a construção de três antenas em distintas partes do mundo, com a intenção de triangular os dados recebidos para determinar sua geolocalização e construir uma cartografia das relações de poder que traspassam a soberania dos estados e se aproveitam das falhas nos tratados internacionais.