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  • Guilherme Kujawski

    Kujawski estive como residente visitante, no primeiro período do #labRes2015 para aprofundar sua pesquisa de doutorado “arte techno ecológica – contexto – resiliência”, na Universidade Federal de São Carlos.

    Guilherme Kujawski é jornalista de tecnologia, escritor de ficção científica e produtor cultural. Desde 1993, colabora em diversos veículos com artigos e ensaios sobre novas mídias e tecnologias. Entre 1999 e 2002, foi editor de tecnologia da revista Carta capital. De 2002 a 2012 concebeu e organizou eventos na área de arte tecnológica para o Instituto Itaú Cultural, onde também editou Cibercultura, revista sobre Arte, Ciência e Tecnologia. Em 1994, publicou o romance Piratas Siderais (Francisco Alves). Tem mestrado em Artes Visuais pela Universidade de Donau Krems, na Áustria.
    http://kujawski.blogspot.com.br

    “rural.scapes

    A casa-sede da fazenda Santa Teresa, localizada próxima à cidade de São José do Barreiro, interior de São Paulo, foi construída na época de ouro da produção cafeeira paulista, na primeira metade do século 20. Desde 2014, ela é o QG de rural.scapes, programa de residência rural concebido pelos artistas Rachel Rosalen e Rafael Marchetti, que há tempos assinam juntos projetos de arte e tecnologia. Ao herdar a fazenda de seu pai, Rachel decidiu que esse era o momento certo de retirar o monopólio dos hacklabs dos grandes centros urbanos brasileiros.

    As residências rurais – como a do Museu da Mutuca, em Altamira, a Estação Rural Nuvem, em Visconde de Mauá e rural.scapes – têm entre seus princípios filosóficos a reinvenção da noção de natureza. Ou seja, elas se propõem a remover a pátina romântica tão presente na chamada “arte ecológica”, cujos praticantes geralmente se valem de uma estética que “gourmetiza” a physis com ambiências estéreis e inofensivas. A natureza, para elas, é ameaçadora e implacável. Tem mais a ver com o lado escuro da lua do que com os comerciais de SUVs.

    Segundo as linhas da convocatória de rural.scapes, a proposta da segunda edição é mesclar as mecânicas da lavoura arcaica aos circuitos integrados, os ícones da cultura maker urbana. Assim, a “alta tecnologia” passaria a conviver com as sabedorias ancestrais e os ofícios da roça que, em tempos de crise hídrica, devem ser encaradas não como ultrapassadas, mas altamente sofisticadas. Veja-se, por exemplo, a técnica de bombeamento de água por meio de gravidade, o chamado “carneiro hidráulico”, estratégia comum em regiões campesinas.

    O programa tem o incentivo de leis de cultura e recebe projetos de países do mundo todo, literalmente (Iraque está presente na segunda edição). Quando chega a Kombi com os artistas, a fazenda torna-se um microcosmo auto-suficiente, um mini-planeta. Ao final de cada etapa, as oficinas e invencionices estéticas são compartilhadas com os alunos das escolas públicas estaduais da região, exercício de formação educativa crucial para o sucesso do projeto. Quem sabe, em breve, os resultados das residências não serão os verdadeiros utensílios para uma nova realidade ecológica?”

    Guilherme Kujawski
    Texto publicado Revista seLecT nº 25