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  • rural.scapes: novas ruralidades

    NSTL0435    NSTL0431 NSTL0424  NSTL0411
    O júri reuniu-se no dia 5 de abril de 2014 em São José do Barreiro, na sede do Projeto Guri, para anunciar os projetos selecionados. Na mesma ocasião, Leandro Pisano compartilhou com a platéia presente o trabalho que realiza desde 2004 no Festival e Residência Artística Interferenze, na zona rural de Irpínia, sul da Itália.

    rural.scapes – laboratório em residência
    Laurita Salles, Leandro Pisano e Nancy Betts – júri
    Rachel Rosalen e Rafael Marchetti – júri e idealizadores da residência

    A imersão na casa da Fazenda Santa Teresa, onde os artistas foram convidados a produzir, foi fundamental para os trabalhos do júri. Pudemos analisar as propostas conjuntamente considerando as questões poéticas dos trabalhos em suas relações com a Fazenda Santa Teresa, a casa e ambiente rural, Serra da Bocaina, região e cidade de São José do Barreiro, no eixo da Rodovia dos Tropeiros (Silveiras, Queluz, Areias, São José do Barreiro, Arapeí e Bananal).

    A seleção dos projetos para a primeira residência rural.scapes – laboratório em residência foi realizada no início de abril. Recebemos 139 propostas válidas de 17 países diferentes e 32 cidades brasileiras. Trabalhamos fazendo uma triagem geral, separando inicialmente os projetos com articulação poética de interesse. Tivemos algumas discussões, mas no geral houve convergência entre os membros do júri. Analisamos a pertinência do conteúdo. O mais importante nesta análise era que os projetos tivessem relação com a área rural.

    O foco de rural.scapes – laboratório em residência é a conexão com o entorno e com a comunidade local, ultrapassando porém o simples fato da residência estar localizada no campo. O intuito foi apontar questões geográficas e culturais relacionadas com a zona rural e propor novos intercâmbios entre rural e urbano. Que pode ser discutido em termos de arte fora dos grandes centros urbanos?

    Desde o inicio trabalhamos com o propósito de acolher projetos com poéticas fortes, coerentes com o espaço ou condições locais, e ao mesmo tempo exeqüíveis no tempo proposto. Também era importante observar cada proposta em relação ao conjunto, para que chegássemos a um coletivo que dialogasse entre si e mantivesse a riqueza da diversidade das origens dos que enviaram propostas aos projetos provenientes de países e áreas diversas. O nível de envolvimento com a comunidade local foi um fator decisivo na escolha dos projetos. Neste sentido, o intercâmbio entre o artista e a comunidade foi muito importante, posto que ambos os lados tem diferentes e importantes conhecimentos. Este compartilhamento de experiências criou novas perspectivas para todas as pessoas envolvidas.

    O júri foi movido a questionar-se sobre a importância de temas relacionados com uma mudança de percepção dos territórios rurais no contemporâneo. Áreas rurais sofrem freqüentemente as desvantagens em termos de infra-estrutura, serviços, tecnologia e oportunidades, são conotadas fortemente por elementos como sustentabilidade ligada ao cotidiano e identidade cultural. Em tempos de crise, podemos apontar a emergência de um novo valor cultural, apostando em que este valor cultural aporte um valor econômico. “Se os artistas podem ser os disparadores possíveis na interação entre a cultura e a sociedade (Yukiko Shikata), experienciar o rural pode dar-nos a possibilidade de redesenhar o local/ regional em relação a arte, som e arte, ciência e tecnologia.

    Outro ponto importante na seleção foi a análise de como os artistas questionaram a ruralidade em um contexto onde os paradigmas de espaço e tempo – como conhecemos desde a física clássica – colapsam sob a pressão das novas tecnologias da comunicação. Nesta perspectiva, não existem mais centros e periferias como conhecemos anteriormente, mas toda a margem ou periferia se torna potencialmente um centro. A arte, como uma ferramenta poderosa para explorar e aprofundar essas mudanças, leva a construir um processo complexo e crítico, através do qual é possível revelar o que está oculto e deslocar o território rural da marginalidade, com o objetivo de interpretar a dimensão local de forma global. Como critério estabelecido pelo júri, ilustrações de regionalismos ou nostalgias românticas do conceito de natureza em oposição à cidade foram evitados. Foram selecionados projetos que continham uma discussão relevante sobre as conexões entre a cidade e o campo, no mundo globalizado contemporâneo.